domingo, 29 de janeiro de 2012

desetendimentos

algumas vezes eu também não me entendo, então não vou ficar pedindo pra você me entender; Mas que um pouco de certeza seria bom, seria. Como seria. Pelo menos pra saber que todo esse investimento ia estar valendo à pena. Não quero fazer como fiz com todas as outras coisas que tive que deixar sem olhar pra trás, carregando o mais rápido que pudia tudo que conseguia ver que era meu e correndo, antes que começasse a chorar... Porque dessa vez to indo pra bem longe dos braços de mãe e dos amigos e isso pode ser perigoso, talvez bom, mas perigoso. Mas não reclamo. Acho que só de ter vindo até aqui, quer dizer, só de ter levado isso até aqui não por obrigação, mas por vontade. Às vezes tenho medo que algumas partes sejam medo seu de me magoar, espero que não. Porque se for, o medo de me magoar me magoa. Faz com que acredite em coisas que não devia e isso é pior do que desacreditar no que queria. Verdade. Prefiro morrer só sabendo de todas as verdades do que ir descobrindo aos poucos e me matando... Mas não  precisa ir embora não, fica por aí... vamos ver no que vai dar. Se eu não tremer de medo e correr você ainda vai me ver bastante.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Eu consigo imaginar seu cabelo passando pra lá e pra cá no meu quarto. Aquele clarão laranja avermelhado indo e vindo junto com a dança perfeita que seu corpo faz andando. Seu riso ecoando pelo quarto abafando momentâneamente a música que vem da sala. Seu peso sobre meu corpo, seu calor,  seus olhos brilhando ao olhar pros meus brilhando ao olhar pros seus. Dá pra imaginar você sentada no sofá passando os canais da tevê procurando um bom filme ou algum daqueles programas de decoração ou algum daqueles programas que te ensinam a fazer algo. Você está sempre aprendendo coisas novas. Sempre me ensinando coisas novas. Eu estou sempre lendo. A minha cara enfiada nos livros buscando informações novas. Algumas te interessam outras você não faz ideia do que se trata mas me escuta só pelo prazer de me ouvir falando. Você diz gostar da forma como eu conto as coisas e fico esperando um comentário depois, mesmo que seja só um 'ah sim'. Às vezes acho que você detesta essa minha necessidade de um feedback. Eu detesto. Detesto precisar de uma resposta qualquer, nem que seja um sorriso pra pelo menos ter certeza que você ouviu o que eu disse.
  Tem um jornal na mesa. Eu não lembro de ter comprado jornal, você diz que um amigo teve em casa enquanto eu não estava e que ele deve ter esquecido o jornal lá. Você fica olhando pra minha cara encarando o jornal e pensa que eu fiquei com ciúme, volta a frisar 'um amigo' . Eu olho para você e sorrio e digo 'relaxa, eu confio em você. Tem café?' e você diz que não mas que pode fazer e eu agradeço com um aceno de cabeça e um sorriso e pego o jornal por curiosidade e sento no sofá da sala e leio o jornal meio que desatencioso esperando a hora que você vai perguntar como foi meu dia. Você traz o café e a impaciência me mata  e eu faço um comentário sobre algo que aconteceu no trabalho. Você faz um comentário rápido meio que cortando o assunto e fala sobre o ataque que a vizinha deu no lobby hoje mais cedo. Eu digo que ela é maluca e por isso vai morrer sozinha, você não diz mais nada sobre o assunto. Eu coloco o jornal na mesa de centro e fico te olhando. Você me olhando de volta. Achei que você estivesse esperando um convite pra sair do seu canto do sofá e deitar na minha perna. Meus olhos fazem o convite, os seus aceitam mas a gente não se mexe. Eu fico te olhando, reparando na blusa que você veste. Percebo que ela não estava cortada assim ontem, comento que gostei, você sorri e diz que achou que eu não repararia. Eu digo que sempre reparo. Mentira, às vezes to tão perdido no meu mundo que se você cortar minhas blusas eu não vou reparar. Você levanta pra levar os copos pra cozinha, eu digo que não precisa, aproveito que você levantou e te puxo pra cima de mim, você solta um gritinho meio assustado e se deixa cair em cima de mim. Eu te dou um beijo no rosto, você inventa que tem que fazer algo para ver se eu te solto, eu digo rindo 'ah, tá bom que vou te soltar sim...' e te abraço mais forte e você sorri fazendo barulho e se aconchega nos meus braços.  Nesse momento nem o café, nem o trabalho, nem a vizinha, nem o amigo, nem o jornal, nem o lobby, nem os meus medos do trabalho, nem a curiosidade sobre o que você fez hoje ou a vontade de falar sobre o que fiz hoje, nem o telefone tocando baixo no fundo, nem as contas pra pagar, nem a falta de dinheiro e a fome, nada importa. Nesse momento eu tenho tudo que eu preciso.
'eu te amo'
'eu também te amo'
Poderia ter sido uma passagem sem querer numa rua, num telefonema pro número errado onde uma voz que eu nunca havia escutado atende o telefone e automáticamente começo a conversar com ela porque quero ouvir mais aquela voz, uma carta enviada pro endereço errado que é respondida naturalmente e inicia um trocar de cartas... poderiam ter sido vários jeitos diferentes. Eu podia ter te encontrado perdida entre as ruas de uma cidade que você nunca havia visitado e você ia me pedir informações que eu não saberia dar e eu ia estar indo para algum compromisso mas ia me interessar por você e mesmo não conhecendo a cidade tão bem assim eu ia te acompanhar pedindo informações e você não ia entender que prazer idiota era aquele de seguir uma estranha pra um lugar que eu também não sabia onde era. Tantas possibilidades...
 A gente podia ter se encontrado no metrô lotado, se esbarrando, você derrubando um pouco do meu café no chão, eu exclamando um "caralho", não por ter ficado puto, mas um daqueles palavrões automáticos que quando você percebe já foi, às vezes solto um palavrão automático. Você podia ficar sem graça ou me achar antipático, ou pedir desculpa e aí a gente podia começar a conversar ou eu nem falar nada ou eu me desculpar por ter xingado e dizer que foi automático e você dizer 'tudo bem' e a conversa acabar aqui... tantas possibilidades...
 A gente podia nem ter se encontrado. Não haver rua, nem metrô, nem telefone, nem carta, nem restaurante, nem amigos em comum, nem internet.
  A gente podia nunca ter trocado uma palavra, nunca ter ouvido a voz um do outro, nunca ter sorrido junto ou chorado junto. A gente podia nunca ter imaginado que o outro existia... realmente, muitas possibilidades.
  A gente podia não estar apaixonado. A gente podia ter se falado pouco, ter se evitado um pouco com um misto de medo e falta de vontade de conhecer mais gente... mas a gente tem tanta coisa em comum... Estranho a gente não ter se conhecido antes também. Enfim, a gente se conheceu. A gente se conheceu na internet, no lugar onde tudo pode acontecer e você era só mais uma pessoa desinteressada e eu era só mais uma pessoa desinteressada e de repente eu quis te conhecer mais e você quis me conhecer mais e agora tudo que dá pra fazer pela internet não é suficiente. Preciso de toque, de corpo, de você aqui, ir aí... preciso de mais um texto pra isso.

Se sabes que o lixo do luxo do bruxo que varres neste momento de nada lhe valhe
porque varres absoluto enxuto tão vil e bruto com força tremenda e cautelosa exatidão tal migalha ?
Se sentes, assim como eu sinto que sentes, o peso da vontade de fugir, porque a janela da saída lhe parece tão alcançável aos olhos, mas tão longe as mãos ? 
Ó crueldade vívida, deixe-a sair pela janela já que a porta há de ter trancado com mãos rígidas de criado em fúria, que não podendo discontar no seu patrão todo seu ódio, cumpre com nojo seu trabalho, aumentando seu cansaço e sua eficiência, mas nunca seu salário.
Claro ! Lhe digo, que sabes o porque canto. É que pretendo amortecer a alma daquele que sofre com pena, e que com angústia escuta a dor da melodia. Viva como somente os mestres saberiam fazer. Fria e cálida como nunca havia de ter sido. Fervorosa e alucinante. Quase me trazem delírios de febre. Ah! Que infortúnio. Talvez, nesse tempo criado não me sobre tempo para nada. E já havia esquecido de meu propósito aqui.
Ó criado afortunado por trabalhar para tão severo patrão. Ouça meu canto lamurioso, ou lamuriante, ou como queira entender. Mas ouça bem, para que saibas a quem pedir socorro. Para que saibas a hora de fugir e para que seu coração não gele no instante de pular a janela. Escute bem, para que a janela se aproxime de tí. Não só de teus, agora tristes, olhos como também de sua fétida e suja mão, que agora se encontra na cabeça que arde em febre. Ah! Febre. Que toque novamente aquela música que me subiu o fervor. E que se esqueçam todos os servos, pois somos todos servos de um só amo, que é a morte. E para a qual todos nos encaminhamos fervorosos e cantantes. Dançemos a nossa última valsa que hoje esse servo não nos escapa. Mal sabe ele, que as grades daquele janela nunca esfriam. É fogo quente que lhe marca a alma, e em lava se alucina, sem saber o problema que lhe persegue. Que se uma vez foges de teu servo interior, nunca se encontrar pode ser a tua eterna cina.
Toque canção, toque. Toque corações apaixonados. Deixe-nos voar além das almas desvairadas deste mundo. Ah! O esquecimento. Deixe-nos todos no esquecimento. Que nada mais merecemos!

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

msn. janta. banho. telefone. era pra ser só um 'boa noite.' vai ser uma conversa de horas talvez dias. coisa que só a presença paga. mesmo que não física. mesmo que só a voz. e como faz falta essa voz. me sinto vazio quando se cala. quando não há ruido do outro lado do silêncio. quando não dá pra ouvir teu silêncio do outro lado da linha ou o barulho da tua chuva que é diferente da minha. voce desliga já bate saudade. saudade engole a gente. ou me engole. às vezes ando tão certo do que você sente. às vezes não. não que eu ache que de repente você não sente nada. mas é que de repente eu olho pra mim e acho que eu tô sentindo tanto. não sei se você tá sentindo esse tanto também. às vezes isso mata. às vezes isso faz viver. sinto também  de vez em quando que tô falando demais o tempo todo. ansiedade cruel de conversar. e de repente eu percebo que eu falei sobre sei lá uns vinte assuntos em cinco segundos e você escolhe um deles e responde e eu acho isso uma jogada genial. haha porra. você só foi jantar e tomar banho e eu já estou aqui de novo. escrevendo sobre você. eu só escrevo sobre você... se você não gostar de mim você deve achar que eu sou o maior 'freak' do mundo. haha
espero que goste de mim.

domingo, 15 de janeiro de 2012

#diálogos - on the gringoes

have you been friendzoned. she asked. of course not i fastly replyied... have i ? i wondered to myself.
algumas vezes é a resposta. acho que na maioria das vezes é a resposta. mas tem umas vezes que é a pergunta que eu temo.
ele berra. o amor escorre de todas suas células. ele quer gritar correr pular cantar. ele quer a todo instante cada vez mais. incessante. impetuoso. forte. ele quer abraçar até explodir. quer se cansar de falar e de ouvir. quer ir dormir achando que nunca mais terão assunto e acordar acreditando que nada foi dito. ele quer instantes que durem eternidades e eternidades que pareçam instantes. beijos longos. beijos curtos. sorrisos. risos. encarnações. cheiro de domingo. cheiro de dormir junto. cheiro de roupa. cheiro de saudade. cheiro de café. cheiro de perfume. cheiro de amor. ele quer futuro no presente. ele quer passivamente ativamente. constantemente. deleite infinito. 
ele transborda.
ela...

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

o peso da armadura que tanto me protegia agora me machuca.
a noite está agradável. o mar violento do lado de fora e a lua na janela. ambiente sensacional após um dia tão ensolarado. venta muito. o barulho do vento é quase como se estivessem demolindo todas as casas ao meu redor. gosto do poder do vento. imponente. esse texto não é sobre isso. não é sobre como a noite está bonita ou sobre como o vento é forte ou sobre como o mar está violento. esse texto na verdade vai parecer ser sobre qualquer coisa menos o que ele realmente é. sinto vontade de cigarro. é impressionante como aquele pequeno enrolado de tabaco me faz esquecer as dúvidas, mesmo que só por alguns momentos. me faz apagar todo o medo. ou esconder todo o medo ou pelo menos direciona minha atenção pro fato de tragar o cigarro com o mínimo de perícia necessária. mais fuga ao tema pensei. e é mesmo. ou não.  eu sei que é fuga ao tema porque eu sei qual deveria ser o tema ou melhor qual é o tema mas vocês não devem fazer ideia do que estou falando ou sabem e sabem exatamente porque estou fugindo do tema. está frio. não o tempo nem o mar nem o vento nem o cigarro. mas está frio. eu sinto como se estivesse congelando ou já congelado. a conversa anda longe e técnica como se fossemos meros companheiros de trabalho. não sei exatamente quando isso começou. faz mais de um dia que não escuto sua voz. não sei se você quer escutar a minha. talvez você só esteja entretida nos seus próprios projetos. talvez queira dar um tempo pra tentar entender isso tudo. talvez queira dar um tempo e esquecer isso tudo. talvez só esteja entretida com outras coisas ou anestesiada por um dia bom. muitas possibilidades muitos medos e o mar continua violento.
hoje fez sol. fazia tempo que não fazia sol. agora já é noite. não nos falamos o dia todo. é estranho passar o dia sem o seu 'bom dia (:' ou a nossa conversa casual. não sei se por isso mas o dia foi estranho. tentei aproveitar o melhor dele sabe. saí com meus pais e fui em um rio aqui perto muito bonito. muito bonito mesmo. eu pensei em tirar umas fotos mas não tenho uma máquina boa o suficiente pra registrar a beleza que eu estava vendo então preferi só olhar. o tempo estava bom o céu estava azul mas faltava algo. faltava algo muito importante. algo que eu sentia o tempo todo que estava faltando. alguém para olhar a paisagem junto e sorrir. alguém me abraçando me dando à mão para caminhar. alguém sentando na grama comigo e olhando pro rio. estava faltando você. parei pra pensar se voce estava com saudade. se havia pensado em mim hoje. não sei. às vezes esse pensamento de não saber me assusta. olho pro rio e vejo meu reflexo sozinho nele. aquela água limpa e o meu reflexo. por mais que eu estivesse sorrindo a sensação de vazio era perceptível. você ia sair com uma amiga. espero que tenha se divertido ou que ainda esteja se divertindo e que não esteja sentindo tanta falta do meu bom dia quanto eu estou sentindo do seu.
será que quando você vai nos lugares você também fica imaginando como seria se eu estivesse com você?
enfim.
bom dia (:

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

o café já tá fudendo meu metabolismo. penso antes de dormir. são 5 da manhã. caralho. faz tipo umas 4 horas ou mais que você já foi dormir. eu queria ter ido junto. mas não to com sono. só ia te atrapalhar na cama. ia ficar virando prum lado e pro outro. voce com sono ia ficar puta e ia dormir na sala. odeio quando voce vai dormir na sala. prefiro ficar te vendo dormir aqui perto de mim sem poder te acompanhar. o café tá fodendo feio meu metabolismo. daqui a pouco você deve acordar. exagero. sempre exagero. voce deve acordar daqui a umas sete horas mais ou menos. espero que ainda te encontre em casa quando acordar.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

hoje há frio. não há chuva é verdade. e há uma pequena tentativa do sol de se infiltrar por entre as nuvens e o vento e talvez dar uma alegrada no dia. o mar está barulhento. penso que sentirei falta do mar. você tá com aquela cara de quem já está acordada à muito tempo e extremamente entediada. sentada no sofá passando canais. você olha pra minha cara. tenta sorrir pra dar bom dia mas o tédio não deixa. paro pra pensar. não sei se você realmente olhou pra minha cara. passo direto por você pra pegar café. suas louças do café estão jogadas na pia. fico com preguiça de fazer e pego um copo de suco e uma fatia de pão. sento do seu lado pra ver tv mas você já desligou a tv. passamos o resto da manhã assim. sentados olhando pro nosso reflexo na televisão.
é um bom começo de domingo.

diálogo #4

quanto tempo.
é verdade. quanto tempo.
então, como vai?
ah! vou muito bem. a família está ótima . realmente casei com a paula. e agora estamos comprando nossa casa própria. é um apartamento em copacabana. ela está com um salário fixo. eu também. até o final do ano compramos um carro.
nossa. que bom cara.
e você?
eu estou meio triste. e meio é eufemismo.

diálogo #3

pessoas são difíceis de entender.
é verdade.
por isso eu acho psicologia fascinante.
haha. é verdade.
acho psicologia fascinante, o ser humano não.


                                                                      , com Guilherme Mota

diálogo #2

como vai o namoro?
eu terminei.
por que cara?
por que o que?
por que terminou o namoro, ué
que namoro?
você não estava namorando?
estava.
e não terminou?
terminei.
então. por que terminou?
oi. um café por favor. forte. sem açúcar. isso. não não. é só isso mesmo. obrigado. o que? não. não li o jornal hoje. na verdade não costumo ler jornal nunca. ah. é. pode parecer alienado mas eu nao costumo me preocupar muito com as noticias. mas eu escuto as pessoas comentando. não. só não me preocupo mesmo. viu. eu disse que ia me fazer parecer alienado.
a casa está como sempre silenciosa. coloco sua foto do meu lado. inspiração. a solidão dessa madrugada é impressionante. sinto falta da sua voz do outro lado da linha no telefone. sinto falta do seu rosto aparecendo na tela do meu computador e do seu sorriso. passo o olho por algumas fotos. alguns textos. escolho bem a música. escolho tão bem que parece que não estou colocando a música só para mim. ela começa a tocar. não era a música que eu queria ouvir. aparentemente fiquei uma eternidade escolhendo uma música que eu não queria ouvir. dou uma olhada ao redor como se procurasse algo para fazer. não há nada e não há sono. uma dose de anestésico cobre o ar deixando o ambiente mórbido. tudo aqui é cinza. cinza e madeira. acendo um cigarro. o apoio na boca e pego a xícara nas duas mãos. ainda há um resto de café bem no fundo. começo a balançar a xícara. o café dança dentro da mesma. tento seguir o ritmo da música. canso de brincar com o café. de relance tenho vontade de tacar a caneca na parede e acompanhar o espetáculo. olho mais uma vez pra sua foto. sorrio. por um momento o vazio fica menos vazio. volto a encarar o computador. nada. absolutamente nada. repasso todas as abas. atualizo as redes sociais. posto mais alguma coisa sem esperar resposta. olho para o relógio. lento. parece que desde que comecei a escrever até agora o relógio não andou. como se esperasse eu terminar de escrever. atento. olho mais uma vez pra sua foto. é. penso. acho que vou te acompanhar e ir dormir.

domingo, 8 de janeiro de 2012

                                     
Andei te procurando. na verdade fiquei até agora te procurando. indiretamente. não te liguei. não fui na sua casa. não gritei seu nome na sua janela. não te mandei uma mensagem. aparentemente não fiz nada mas te procurei. abri todas as gavetas da casa. escutei todos os discos que ouviamos juntos. reli aquele livro que voce me deu de aniversario. voce não estava mais aqui. procurei na sala. no banheiro. na cozinha e no nosso quarto. você não está mais aqui mesmo. Só agora que me dei conta disso. quando será que você foi embora? faz muito tempo? não sei. não reparei. não lembro exatamente de você saindo. lembro de algo parecido... alguma coisa como você dizendo que ia em algum lugar. e você foi. não vi o tempo passar. quanto tempo será que faz isso? algumas horas. talvez alguns dias. quanto tempo será que você saiu? a saudade veio vindo. disso eu lembro. lembro da saudade vindo. devagar. devagar  e constante. eu sentia a presença do meu lado. presença do que era você. ou que achei que era você. presença constante. devagar e constante. presença e saudade. que presença? talvez voce tenha retornado. talvez tenha esquecido de levar a chave ou a carteira ou o celular. voce costuma esquecer essas coisas e volta pra pegar rápido e sai de novo. talvez tenha sido isso. talvez tenha sido a moça que faz faxina que entrou. a porta devia estar aberta. nao lembro. fez o que tinha que fazer. talvez tenha conversado comigo. pedido um aumento. eu devo ter respondido qualquer coisa. não lembro. talvez tenha mandado ela embora. talvez. parece que faz tanto tempo que nao aparece ninguém aqui. a quanto tempo será que as coisas tão assim. ando mais uma vez pela casa. abro o armário. não vejo suas roupas. não vejo nada. vou para a sala. a estante. nossas fotos. nossas fotos. eu tinha certeza que tinhamos fotos na estante. olho para os porta retratos. fotos minhas. fotos minhas em casa. fotos que eu nao lembro de ter tirado numa cas que nao parece a casa que estou. nao sei se está chovendo. provavelmente está chovendo. reparo que nao há decoração na parede branca. há poucos móveis. não há revistas novas. livros novos. jornais novos. há uma camada de poeira por cima de tudo. é. provavelmente eu demiti a empregada. quanto tempo será que faz isso... é. voce nao voltou. voce é alergica a poeira. se voltou e viu a casa assim deve ter falado comigo. eu nao devo ter me importado porque nao lembro nem de voce ter voltado nem da empregada ter ido nem de voce ter ido. voce deve ter gritado queimado as fotos feito um escandalo. deve ter dito que eu arruinei sua vida. eu devo ter arruinado mesmo. voce deve ter pego suas coisas. e as minhas também porque nada aqui parece ser meu. voce deve ter pego todas as coisas e ido embora. e eu nem percebi que as coisas nao estavam mais aqui. e eu nem percebi que voce tinha ido embora. eu to sentindo saudade de voce. eu to sentindo saudade de voce e to tentando lembrar de voce. nao consigo lembrar de voce. fico procurando qualquer coisa que me dê uma pista. olho os móveis novamente. todos eles. minuciosamente. procuro por qualquer pista. um cheiro diferente. um fio de cabelo. um vidro de esmalte de perfume de desodorante. um resto de foto. um cd. não há nada. nada que me lembre de voce. nada que me lembre do que voce foi. nada que me lembre do que eu sinto saudade. só há a saudade. só há a saudade de uma coisa que eu nem sei o que é mas que tenho certeza que não está mais aqui. desisto de procurar por voce. resolvo olhar mais para mim. procuro pela casa algo que seja meu. algo que eu goste. volto pro quarto. nao reconheço o quarto. não reconheço a cama. no armário há um espelho externo que me reflete do pescoço para baixo. não reconheço minhas roupas. nem o armário nem o espelho. abaixo para ver meu rosto. um clarão entra pela janela e reflete no espelho. não consigo ver nada. olho para trás.
não acho a janela.

ao som de imaginary you
para variar chove. os mosquitos sobrevoam a pouca luz do computador. alguns me picam. sinto coçar. não coço. se não fosse pela digitação não estaria me mexendo. para variar chove. dessa vez não há café. nem você. nem nada. só chuva. e uns clarões. raios dentro do mar. é. estou numa casa que dá para ver o mar da janela. quer dizer. de dia da para ver o mar da janela. hoje, por estar chovendo muito o mar fica visivel pelos clarões dos raios. gostaria de poder dividir mais dessa cena. mas nem estou aproveitando tanto essa cena.


o barulho de chuva aperta. quanto mais barulho de chuva mais silencio. imagino voce ou imagino que imagino voce. no momento meio que dá no mesmo. talvez voce gostasse de assistir os raios comigo. o céu aqui é sempre muito escuro nessa época do ano. deve fazer quase um mês que não vejo a lua. não consigo achar a lua. não da minha janela.


chove. sempre chove. a constante faz com que todos os textos pareçam o mesmo texto. sutis mudanças. sutis como a diferença entre os pingos de chuva. um raio forte. o céu inteiro fica lilás. o mar brilha. a imagem é linda. o barulho de chuva diminui. o silêncio aumenta. o silêncio sempre aumenta.


não há medo. não há nada. da janela dá para ver as luzes da orla da praia. as luzes da orla da praia e os raios e o silencio. dá pra ver o silencio  dentro das casas com suas luzes apagadas. e o barulho dentro de outras casas com suas televisoes ligadas. agora são dez horas. mas ainda parece que são nove horas e ainda parece que são oito horas. e ainda parece que tudo isso é um texto só.


a chuva parou. pelo menos do lado de fora. aqui dentro ainda chove. cada vez mais forte. há raios. raios fortíssimos e silêncio. não há trovões. só raios. raios e chuva e silêncio.
e são dez horas e eu não sei onde você está.
só há chuva.
chuva e silêncio.
toca jazz e chove. aqui sempre chove. quando nao chove e eu preciso de chuva, eu simulo. este texto deveria prestar um agradecimento às pessoas que criaram sites que simulam chuva.
obrigado.
toca jazz e chove e tem café novo. sem açúcar. amargo como eu.
o cheiro do café é exímio. quase uma obra de arte. a fumaça já é fraca saindo da xícara o que significa que em poucos minutos esse café não servirá mais e eu precisarei fazer outro café. outro café. outro café.
a quanto tempo será que estou ouvindo musica e barulho de chuva e tomando café.
confiro o relógio.
são oito horas da noite e eu tenho certeza que não podem ser oito horas da noite.
há chuva e café e silêncio e não são oito horas da noite.


o relógio marca nove horas da noite. mais jazz. mais café e a mesma sensação de que o tempo está adiantado. nao algumas horas. mas alguns anos. me sinto as nove horas da noite daqui a noventa anos. considerando a idade que  já tenho minha afirmação fica ainda mais precisa. parece que são nove horas e que eu estou morto. pelo menos é o que parece.


o toca discos pára de tocar. penso em levantar para virar o disco. penso em te ligar. penso nas coisas que vou comprar quando tiver dinheiro. 
quanto tempo será que faz desde a ultima vez que eu tomei banho ?
quanto tempo será que faz desde a ultima vez que sai desse quarto e fiz algo além de tomar café e ouvir música e pensar em você.


o café esfriou e eu esfriei junto com o café. já não toca mais nada. só a chuva e o barulho das caixas de som zunindo. pedindo por um som. me lembrando que o toca discos ainda está ligado. não vou virar o disco. desculpa.

diálogo

desculpa a curiosidade, mas o que já começou ?
junho
ah sim
detesto junho. tudo dá errado
e já começou
o que começou ?
tudo meio assim nublado fora de ordem se é que algum dia houve alguma ordem. Não há medo Nem há desejo uma sensação amortecida do que ontem era vida. Os mesmos planos dessa vez distantes não esquecidos nem postos de lado mas distantes. O café cheira desagradável o móvel cheira desagradável a minha sombra projetada na parede está desagradável. o meu cabelo meu jeito a cadeira as musicas a iluminação tudo está desagradavel. escrever está desagradavel.nao quero mais seguir uma pontuação. paro. frase. por. frase. palavra por palavra. pontuo o texto conforme penso. vou seguir assim.

cansaço.chuva.frio. cansaço. chuva mas não ta frio. nao aqui dentro. aqui dentro esta normal. o calor normal dos moveis de madeira e o aquecimento nas mãos por causa do notebook ligado a horas. nada de produtivo. o tempo ta passando. pelo menos é o que deveria estar acontecendo. me pergunto se já almocei. angustia. me pergunto quantas vezes ja almocei desde a ultima vez que dormi. já estamos em 2012. pelo menos é o que parece. nao lembro de nada dos ultimos dois anos. nao sei a ordem cronologica de nada que aconteceu e nem lembro de quando é esse café. nao me lembro de ter feito café.

troco a música. o brilho dos raios ecoa pro lado de dentro da janela. meu cabelo volta a incomodar. agora os olhos incomodam. estar acordado me incomoda. o barulho do trovão rasga o silência da casa e ecoa. troco a musica. penso em levantar e jogar o café fora e fazer mais. passo a mão no rosto. penso nos 3 andares que tenho que descer para fazer café. não temos cafeteira nem microondas. não quero ficar de frente pro fogão e ter que coar café manualmente.

esqueci a janela da sala aberta. provavelmente está chovendo na sala. provavelmente algum vizinho do prédio da frente deve me gritar para avisar que a janela está aberta. eu sei que ela está aberta. eu quero deixar a chuva entrar. quero deixar qualquer coisa entrar só pra não ficar assim sozinho.

troco a musica. tiro o fone dos ouvidos por um tempo. escuto a casa. a chuva lá fora. alguns barulhos da rua. a vida lá fora me incomoda. levanto para fechar a porta do quarto e apagar a luz. o som dos meus passos me incomoda. volto para a cadeira. mas nao sento. arrasto o notebook pra cama. não há posição confortável e a vida aqui dentro me incomoda.
o copo de café está vazio.
não me lembro de ter bebido o café.
preciso comprar um caderno. preciso comprar um caderno porque escrever no computador já não me basta. quero ter um papel pra escrever porque prefiro minha letra à essa letra reta, ornamentada e sem sentimento. quero escrever num caderno e mostrar só pra quem eu quero. é. vou comprar um caderno.

K

sabe. eu gosto de voce. gosto de voce assim, de graça, sabe. foi muito bom recuperar o contato com voce depois de tanto tempo. de verdade. e melhor ainda foi descobrir que temos tanto em comum. foi muito bom te ver de novo e sair com voce mesmo que para uma noite frustrante no inverno. mas apesar de tudo foi lindo. de verdade. e eu fico feliz por ter acontecido. 

sinto que nossa amizade tá indo.
 embora.
 de novo.
nao sei se é pra ser assim. mas tá indo. isso me deixa triste. mas nao sei se posso evitar. talvez seja pra ser assim. nao sei.
às vezes é isso mesmo. a gente vai se apegar e se desapegar. se apegando e se desapegando pra sempre. nao sei.

sei que nao queria ter que te deixar ir mas sei lá. 

sabe.

as vezes sou eu pedindo, de novo, demais das pessoas. queria voce por perto porque gosto de poucoas pessoas e gosto de voce.  só isso.
nao sei como vai ser daqui pra frente. quando vamos nos ver ou nos falar mas espero que tenha sorte.

sorte e sucesso.
Hoje eu não to ligando. Não to ligando mesmo.
Hoje sou chuva e som
e só.
Hoje você vai abrir a porta
vai me dar bom dia
ou boa noite
porque não sei que horas são
e eu não vou ligar.
não é que te esqueci
não é que de repente não sou mais o mesmo.
é só que hoje eu quero tempo pra mim.
Vou ler alguma coisa
fazer meu café
falar poucas palavras.
E isso não tem nada a ver com você
espero que você entenda.
Não dê nenhum ataque
nem questione o meu amor.
Não dificulte o que é fácil
não peça de mim mais do que eu posso te dar.
Não faça o meu café.
Hoje não.
Não é nada com você, mas às vezes eu gosto de fazer minhas próprias coisas
só pra me sentir um pouco vivo ainda.
Hoje eu quero ligar a tv pra abafar a tua voz
ou a tua música
e hoje eu vou conviver com você em sintonias diferentes
e hoje vai parecer que a gente brigou
mas eu não falei nenhuma palavra.
Isso pode durar dias
ou semanas
até quem sabe meses.
Mas você sabe
Você já me conhece.
Tudo vai voltar a ser como era um dia
tudo que eu preciso é tempo.
No fundo, você sabe que também precisa desse tempo
e que no final dele, as coisas vão voltar a ser como eram.
É só questão de paciência.
Não dá pra ter pressa.
Você sabe que não dá pra ter pressa.
No fundo a gente sabe que é essa montanha russa de sentimentos.
Esse vai e vem. Está não está. É e não é
e a segurança de que
não importa o que for hoje
vai sempre ser a mesma coisa
é o que mantém esse sentimento vivo.
Porque a nossa rotina não é linear.
E se o que a gente tem fosse linear
não seria parte da nossa rotina.