terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Neurose gourmé

Pára!
 Não. É sério, pára!
 Tira esse sorriso da cara e encara logo o fato de que não tá legal, não tá bom.
Você não cansa não ?
 De fingir que tá tudo tranquilo, que você não se sente uma bosta, um derrotado. Que a solidão não tá te dando chicotada o tempo todo.
Tá gostando de chorar e não poder ?
E as pessoas a sua volta achando que tudo é um grande exagero seu, te deixa melhor ?
É, imaginei. Agora tá mais sincera essa sua expressão. Vaga, longe, triste.
Agora a gente pode começar a conversar...
Não quer, né ?
Tô vendo que não quer... Vai esconder por quanto mais tempo ?
Ah! Isso! Vira a cara mesmo. Aumenta o volume
FINGE QUE NÃO TÁ ME ESCUTANDO.
É. Eu vou gritar mais alto do que você imagina possível.
Tá querendo me mandar embora ?
Eu sou só uma voz na sua cabeça...
É só você dizendo pra si mesmo o que todo mundo que olha pra você pensa, mas ninguém fala:
                                                      "Você é um merda."
Um bostinha desses qualquer. Ninguém liga pra você. Ninguém quer saber se você tá bem ou não. Te suportar já é uma luta.
Eu não vou embora porque sou só uma voz na sua cabeça, mas se eu fosse um amigo... Ah! Com certeza eu ia.
Se eu fosse um amigo...
Falando assim até parece que você tem muitos...
ooooooooooooooooh.... ficou magoado ?
Vai chorar ?
VAI CHORAR SEU BOSTINHA ?!
Então chora. Chora tudo que tem pra chorar. Vai se sentir bem pior depois disso. Vai começar a ter vergonha de mim.. Vai querer parar de me escutar..
Mas aí você vai ficar sozinho, porque eu sou real, sou incisiva, sou essa voz na sua cabeça que fica te lembrando, o tempo todo, sem dó, o quão solitário e triste você é, mas sou a única coisa que tem pra você conversar.
Pelo menos sou sincera. Amargamente sincera.
Ah! E aquela garotinha... É, essa mesmo. Esquece ela. Ela não gosta de você.
E não. Você não vai ser mais feliz se você namorar o Daniel. Nem o Jonatan. Não, esse aí principalmente.


NÃO.

Caralho que que tem de errado com você ?
Ou melhor... Que que não tem de errado com você ...
Já se viu no espelho ? Teu cabelo tá uma merda.
Tua barba tá uma merda
Tua sombrancelha tá uma bosta
Você tá gordo
Tá feio
Tá sozinho
Tá carente
Foi abandonado por todo mundo que você achou que um dia gostava de você
Agora fica aí igual um mendigo. Pedindo abraços, carinho... Achando que um dia alguém vai te amar.

Acorda, homem.
Acorda e presta atenção no que você tá fazendo.
Pára de se preocupar.
Recalca.
Finge.
Se foca nas coisas que não pedem muito de você
Vai numa pet shop e compra um bichinho...
Um gato ou uma tartaruga...
O problema do gato é que ele vai morrer antes de você
O problema da tartaruga é que você vai morrer antes dela e, como você não tem amigos, nem namorada nem vai ter filhos a tartaruga vai ficar sozinha num apartamento gelado e úmido, fedendo a cigarro e bebida e mofo.
Principalmente mofo
Principalmente cigarro
Principalmente bebida
E a televisão ligada no canal que só passa desenho e aquele monte de livro que você não leu
e aquele monte de texto que você não terminou
E a alegria por saber que com seus pais mortos você pode não fazer nada e deixar a vida te matar
E a tristeza de saber que com seus pais mortos você não tem com quem conversar.
Saudade de chorar no colo da sua mãe, mesmo que você nunca tenha feito isso...

QUE VIDINHA DE MERDA...

Melhor seria se nem tivesse nascido
Ou que não tivesse se apaixonado pela primeira vez
Ou que não tivesse jogado basquete, tocado guitarra, aprendido inglês, espanhol
ido pra uma escola boa, feito primeira comunhão, se apaixonado de novo, terminado,
perdido a virgindade de uma forma terrível, mentindo sobre tudo o tempo todo,
fazendo da sua vida algo mais divertido do que ela podia ser.
Melhor seria se eu não tentasse ser esse burguês filhinho da mamãe disfarçado de malandro.
Melhor seria se eu tivesse outro lugar que não o travesseiro molhado de choro pra depositar todo meu amor.
Melhor seria se não tivesse amor.
Ta aí.
Recalca !

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sobre aprender-se e respeitar-se

  Eu não usaria a palavra difícil para me compreender porque soa como se fosse um problema e não é um problema (bem, às vezes é, mas é diferente). Meu nome é Roque, tenho 21 anos, estudo psicologia na Universidade Federal Fluminense, em Niterói. Sou negro, de classe média alta, vim de um bairro central em uma cidade pequena, na serra do Rio de Janeiro, Teresópolis. A quem interessar possa sou de escorpião e, o mais importante dos detalhes e o motivo deste texto : eu não sinto desejo sexual em outras pessoas. Evitarei detalhes (ou tentativas pseudo acadêmicas) de explicações “científicas” sobre e tentarei fazer desde relato o mais sincero e real possível.
         Eu devia ter entre 15 e 16 anos quando me deparei com a minha primeira possível experiência sexual. DIgo primeira possível experiência porque não teve o sexo em sí, mas algo muito estranho, que eu não sabia se as outras pessoas sentiam e eu não sabia como perguntar. Era uma garota (naquela época nunca havia passado pela minha cabeça questionar a minha sexualidade, ou a sexualidade em geral). Ela era mais nova, tinha 13 anos, mas tinha saído de um relacionamento com um cara de 18 e estava apaixonada por mim. Saíamos a uma semana quando ela ligou para minha casa de madrugada (na época eu tinha uma linha telefônica que só tocava no meu quarto, o que foi um puta adianto na minha adolescência) dizendo que estava com muita vontade de, em suas palavras, “dar pra mim”. OK.
     Foram vários impactos. Primeiro a euforia teen de, num círculo de amizades masculinas não questionadoras, finalmente perder o último traço que me separava do grupo deles : a virgindade. Segundo, um medo terrível já que era a primeira vez nos meus quinze anos de vida que alguém queria enfiar o meu pênis em algum lugar. Pois bem, sem entender muito bem do que se tratava disse que também queria trepar com ela (sei lá que palavra usei na época). Aqui começam os problemas… Principalmente porque eu não queria transar com ela e, apesar da gente ter dado uns “amassos” mais fortes, com mais pegada na época eu não tinha, até aquele momento, pensado em fazer sexo, nem com ela, nem com ninguém.
  Para minha sorte (ou não) naquele fim de semana meus pais iriam para o clube e eu poderia dizer que estava com sono (porque eles saíam de casa as 8 da manhã) e ficar em casa “dormindo” durante a manhã… bem, vocês entenderam… E assim fizemos. Meus pais saíram de casa as 8 e meia e as 9 ela já estava lá. Com a saia mais curta que eu já tinha visto na minha vida. Aí eu começo a tremer. Ela me leva até meu quarto, fechando a porta da sala. Eu completamente sem reação. Ela me joga na cama, pula em cima de mim e eu começo a dizer, baixinho, descontroladamente : “medo.medo.medo.medo.medo.medo.medo.medo…” Eu não conseguia me conter. Tudo que eu conseguia fazer era expressar, com a voz mais assustada possível, a palavra MEDO. E foi uma palavra que, sem dúvida, definiu todas as minhas experiências sexuais depois dessa. (se é que vocês consideram essa uma experiência sexual). Não transamos. Ela não conseguia entender o que tinha de errado. Saímos da minha casa e fomos dar uma volta. Ela ainda não conseguiu entender o que “deu errado” aquele dia. E eu não sei se, na época, sabia/tinha coragem de explicar.
   (Preciso de um parêntese grande nessa parte antes de continuar a história para fazer um prólogo do que acabei de relatar : Antes desse acontecimento, entre meus 14 e meus 15 anos, eu tive uma namorada. Namoramos por 8 meses. Nos masturbávamos constantemente, mas nunca fizemos sexo [penetração]. Foi nessa época que tive meu primeiro contato com o sexo feminino e tudo me excitava muito pela sensação de descoberta. Mesmo nessa época, nesses 8 meses de namoro, não havia me imaginado fazendo sexo.)
    Nessa parte da minha história, sem perceber, comecei a andar com lésbicas. Não parece ser uma informação pertinente (e talvez não seja realmente nesse momento) mas é uma informação que, quando parei para tentar me compreender, fez um enorme sentido para mim e talvez faça para você, na conclusão desse relato.
Minha segunda experiência mais forte foi alguns anos depois. Eu tinha dezessete. Ainda não havia pensado em fazer sexo com alguém apesar de me masturbar constantemente. (Não havia ainda percebido o que me atraía na masturbação. O que me fazia gozar.) Era uma menina novamente. Um pouco mais velha (tinha 19 na época). Bissexual, divertida e linda. Nos apaixonamos porque ambos éramos (e ainda somos) intensos demais. Ficamos cerca de cinco dias juntos. No terceiro ela já queria muito trepar comigo e eu, bem, eu nada. Mas eu mentia. Dizia ter vontade e, quando ela me perguntava se eu me masturbava pensando nela eu dizia que sim. E era assim que eu acreditava que, quem sabe um dia, eu conseguiria. Até esse momento da minha história eu não tinha me perguntado se, talvez, eu gostasse de meninos. Um dia estávamos no carro de um amigo, no banco de trás e ela queria muito fazer oral em mim. Eu não estava à vontade e não queria, mas cedi à insistência. Foi péssimo. Eu não conseguia ficar excitado de forma alguma. Ela se irritou, saiu do carro puta e terminamos.
    Minha terceira experiência sexual foi durante o último ano do ensino médio. Eu tinha 17 e acreditava piamente que eu não poderia chegar virgem na faculdade. Comecei a namorar uma garota que andava com o meu grupo e eu sabia que, em diferentes momentos, ela já havia tido relações com todos eles, menos comigo. Começamos então a namorar e era uma relação extremamente sexualizada. Íamos para locais escuros em ruas escondidas e começávamos a nos roçar. Ela sentia tesão, eu ficava ereto pela fricção. Ficava feliz por estar demonstrando tesão. Ela gozava, eu gozava. Nenhuma penetração acontecia. Minha virgindade estava segura. Temerosa, porém segura. E eu não precisava mais me preocupar em pensarem que eu era virgem porque fofocas se espalham. Finalmente chegou o dia em que eu perderia a virgindade. Não sei se eu estava contente. Nunca havia pensado nisso. Fomos para uma rua, começamos a nos pegar e, finalmente, houve penetração. Pra frente, pra trás, pra frente. Muito medo, nenhum tesão. Brochei. Terminamos. E assim perdi minha virgindade. Nos três segundos mais eternos e, talvez, mais pavorosos da minha vida.
  Depois de todos esses acontecimentos pensei que talvez eu poderia ser gay. Bem. Foram mais três tentativas frustradas. O resultado era o mesmo. Eu não sentia tesão. Nem por pênis, nem por vagina, nem por cu, nem por boca, nem por nada. Mas eu continuava me masturbando loucamente. Com todo e qualquer tipo de vídeo, buscando entender o que me excitava neles, buscando descobrir porque eu me masturbava tanto mas não tinha menor vontade de fazer sexo com as pessoas. E foi aí que as fichas começaram a cair. 
  Primeiramente descobri o que realmente me excitava nos vídeos pornôs. Os rostos. Aqueles rostos felizes. Os dentes mordendo os lábios, os olhares. O sexo pra mim tanto fazia. O que me excitava era outra coisa e por aí consegui começar a entender o que eu sentia, como eu sentia. Começou a primeira fase. APRENDER-SE. Porém, eu ainda estava muito longe (e até uns dois dias atrás eu ainda estava muito longe do RESPEITAR-SE.)
    Não foi simples. Não foi simples e não é simples e eu não sei quando pode vir a ser simples, mas vem sendo mais fácil. Vem sendo mais fácil porque agora eu venho aprendendo a respeitar-me. Em analogia a forma como acredito que agi, imaginei um gay do séc. XVII, numa comunidade em que não houvessem outros gays. Sem celular, sem internet e sem Beyouncé. Querendo agarrar outros homens, vestir outras roupas, mas sem nenhum padrão. Sem nenhum conhecimento prévio do que estava sentindo para se espelhar. E, com tanto desconhecimento e falta de liberdade para falar sobre seus desejos que ficava se punindo e tentando se adequar. E até quem sabe arranjou uma esposa e transava com ela pensando no Orlando Bloom do séc XVII. 
Esse era eu. Uma pessoa que não sentia desejo sexual por outras pessoas, trancafiado num mundo onde todos que eu conhecia falavam sobre sexo e vontade de fazer sexo e eu não me sentia à vontade o suficiente para dizer “ei, eu sou o Roque e eu não tenho vontade nenhuma de fazer sexo.” Aí que comecei a andar com as lésbicas. E ai que isso fez sentido. Porque com elas eu tinha certeza que, em momento algum, haveria a possibilidade d’eu me tornar objeto de desejo. Nunca faríamos sexo. Era um porto seguro. E, para além disso. Foi o lugar onde eu pude me expressar e conversar sobre gênero mais livremente. Agradeço a todas as lésbicas que marcaram minha vida por tudo que passamos e aprendemos juntos e por me darem toda a liberdade que eu tive para poder ser eu mesmo (mesmo que na época eu não percebesse que eu estava fazendo isso) perto de vocês.
O caminho para respeitar-se, no meu caso, foi muito difícil. Foram milhares de tentativas, de flertes desnecessários, de mentiras sobre fins de semana com sexo que nunca existiram. Vontades falsas de transar com alguém, e uma dificuldade absurda de conseguir compreender o meu desejo. Por várias vezes me recolhi chorando na cama porque eu havia chamado alguém para um encontro e eu precisava ligar desmarcando porque eu não queria um encontro. Eu não queria um beijo e talvez sexo. Eu queria um abraço, um carinho, dormir junto, conversar… mas sexo não.
    Foi muito difícil conseguir me organizar na sociedade, e talvez eu ainda dê alguns tropeços. Ainda tente fazer sexo mais vezes e volte pra cama chorando porque não deveria estar tentando me adequar a coisas que não sou. Porque respeitar-se é um exercício diário. Principalmente quando o sexo é um assunto tão recorrente, tão abrangente e tão fora da minha realidade.
Não sei se o texto ficou bom… Passei correndo por vários temas, hora por preguiça, hora por achar que o texto estava ficando grande demais… talvez um dia eu volte em alguns pontos específicos, mas vou continuar escrevendo sobre as experiências e impressões que eu tiver pelo caminho.



quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

partidas

saudade saudade saudade saudade. Saudade não define mais. Vai passar mais um ano. Vamos entrar em 2014... parece que você ainda não morreu. Ainda não esqueci ainda não abandonei... ainda acho que um dia vou te encontrar na praça olímpica e foi tudo uma grande piada. Uma piada escrota que fizeram comigo pra ver se eu realmente gostava de voce.... pra ver se eu te amava mesmo ou se eu só fingia.... uma piada pra acabar com meu ego de achar que eu podia não te beijar quando eu não queria e brigar com você por motivos bobos acreditando que quando eu quisesse você ia estar lá pra mim e ia voltar comigo. Porra. Ainda podia ser 2010 e a gente ainda podia estar naquele último evento de hardcore e eu devia ter te beijado. Porque eu sinto saudade. Desde aquele dia até o infinito, não vai passar um dia, ou, sem exageiros, uma semana, em que eu não sinta saudade. Do seu sorriso, do seu cheiro, da sua voz... de como você era agressiva, como você gostava do meu pescoço, como você tinha tudo e nada a ver comigo... Como desenhava bem, beijava bem e tinha planos... Como se vestia bem e como curtia o hardcore tanto quanto eu e tanto quanto todos esses grandes amigos que cresceram comigo... Talvez de todos o nero entenda melhor o que eu passo. Porque ele passou pela mesma coisa. Porque ele também perdeu alguém do jeito que eu perdi... sem se dar conta do que tinha perdido. Não vai haver um dia na minha vida que eu vou acordar te amando menos. Você me ensinou a dar valor as coisas... a respeitar os tempos, a resgatar os abraços... Sempre que deixo de dar valor a um amigo lembro de você e de como você valorizava as coisas pequenas, os momentos pequenos, as conversas bobas... Como você só queria ficar o tempo inteiro conversando comigo como se não tivessemos mais nada pra fazer...Será que ia ser difícil com você ? Sem dúvia seria... Somos dois cabeças duras infernais... mas sem você é muito pior. eu ainda sinto saudade, Esther.

sábado, 13 de julho de 2013

encontros

é muito difícil compreender essa situação toda mas eu ando me esforçando. de verdade. queria saber como as coisas acontecem assim. porque pra mim não vai fazer sentido. nunca vai fazer sentido. eu entendo o que aconteceu e entendo porque aconteceu mas não. não era pra estar acontecendo não assim e principalmente não com você. é complicado falar disso e eu tenho medo de verdade que você leia esse texto algum dia e eu imagino que você vai ler antes do que eu tô imaginando e aí eu vou passar a aparecer de uma forma talvez transparente demais em pouco tempo e isso pode ser perigoso. você pode achar estranho ou entender as coisas de uma forma complicada, mas eu tô sufocado então eu preciso escrever. espero que caso alguma coisa te assuste no decorrer desse texto você me perdoe pela sinceridade e pela simpatia e pela força e velocidade com que as coisas são processadas.
 eu não consigo entender como ele pode ter te largado em casa. não consigo entender porque desde que vocês me deixaram em casa e eu deitei na cama e abracei o travesseiro e seu cheiro ainda tava um pouco na minha blusa apesar do cheiro de mar da minha calça ser bem mais forte tudo que eu queria era te abraçar de novo e de novo e de novo e de novo. e sentir seu cheiro e eu sei que você ia cansar de me abraçar e ia repetir 'acabou o abraço' pra eu te soltar porque se dependesse de mim eu não ia te soltar nunca e eu acho que você percebeu. não consigo entender porque eu to contando as horas pra te ver e ouvir sua voz grossa e rouca e sorrir pro teu sorriso e olhar pros seus olhos enquanto você fala ou olhar pra cima pra noite linda, estrelada, nublada, chuvosa e sentir que eu nao queria mais nada além daquilo. e ele nem ai. porque ele tem coisas imperdíveis pra fazer. porque ele tem uma vida pra seguir porque ela nao pode parar quando você aparece. porque você é só mais uma das milhares de pessoas que existem por aí e porque você vai estar aqui no dia seguinte, até não sei quando então ele pode te encontrar quando ele quiser.
    não posso ter sido o único a perceber que imperdível é você e a forma com que você conjuga as frases e o seu sotaque quase paulista e as suas marcas de vida e a forma bagunçadamente arrumada que seu cabelo se espalha por sua cabeça. e o jeito com que você presta atenção nas pessoas quando elas falam. e como é gostoso encostar a cabeça na sua. e eu te conheço a dois dias, passei pouquíssimas horas com você e já to pensando em como eu vou chorar e me sentir sozinho quando você for embora e nos planos que eu já to fazendo de ir te visitar o mais rápido possível e arrumar um emprego e ir visitar o otada primeiro, porque ele merecesse e . como. você. já. faz. falta. no. meu. dia. a . dia . e como eu sei que vou te encher o saco. porque eu to com uma fome insaciável de você. e porque você tem razão. tudo. é . lindo. aí. mas eu não vou te falar isso porque você vai ficar metida. e eu queria estar com você olhando o mar e de repente entrar em coma mas só se eu tivesse a certeza que quando eu entrasse em coma eu ia poder viver aquele momento até cansar e aí eu ia acordar do coma e que você não ia ficar mal / sentir saudade / qualquer outra coisa ruim porque você ia saber que eu tava bem porque eu ia entrar em coma sorrindo. tá. essa parte do texto ficou bizarra, mas não vou excluir. essa é outra regra dos meus textos quase desconexos. não excluir  nenhuma frase escrita.
 posso parecer ainda mais estranho e causar ainda mais medo ?
não quero que você vá embora. nem da minha cabeça, nem de niterói, nem da praia, nem da minha casa. até você cansar de mim e isso pode ser um processo bem rápido, e eu vou entender se for porque eu costumo ser uma pessoa que tenho encontros muito rápidos e muito intensos que ficam repercutindo em mim ad eternum. mas espero que dure. que a distância que vai aparecer hora ou outra e não depende de mim nem de você seja suficiente para amortecer essa vontade de você que eu venho sentindo nesses dias e que, ao mesmo tempo essa distância não seja grande demais pra apagar a chama que acabou de se acender.
já bolei mil estratégias pra te convencer a ficar mais um pouco. não vou usar nenhuma delas. não quero atrapalhar sua vida e, em algum momento, não quero atrapalhar minha vida também e não quero parecer louco nem fazer ofertas malucas. queria poder te chamar pra sair e desaparecer com você pra um lugar onde nao tivesse mais ninguém e ficar lá o dia todo sentado, olhando pra você e pro céu e conversando e cantar nossas músicas preferidas ou as músicas que viessem na cabeça e conversar por música, porque as músicas conversam ou ir pra um lugar tumultuado, tomar café ou qualquer coisa e sentir como se não tivesse mais ninguém alí além da gente e perceber que algumas pessoas que param e percebem o que está acontecendo sentem inveja de uma relação tão singela nos dias de hoje. queria qualquer coisa que fosse com você. só não queria não ter opção e ter que te aguentar assim, presa em casa porque eu to longe demais pra te salvar e você não tá em condições de se salvar sozinha.
e eu ainda não consigo entender o porquê. 

sexta-feira, 12 de julho de 2013

responsabilidades

Detesto acordar com o telefone tocando e tem uma caralha de coisa pra fazer hoje. comer arrumar a mochila procurar uma papelaria, tenho que comprar tintas que meu pai pediu no telefonema que me acordou. preto, azul celúrio, verde inglês (normal e claro) e violeta escuro. não faço ideia de onde tem uma papelaria e tenho que correr pra faculdade pra almoçar, porque o restaurante universitário, vulgo bandejão apelidado carinhosamente de bandeco fecha as duas e são uma e alguma coisa e estou ouvindo a mesma música de ontem a noite e você acabou de me dar um tchau numa dessas redes sociais da vida especificamente o facebook e eu não disse tchau porque eu acho que o tchau é uma palavra muito específica que denota finalização. como se aquele encontro tivesse acabado e na próxima talvez vez que nos virmos um novo encontro começaria. por isso uso até. "até a continuação desse encontro". tenho um medo lapidar de que as coisas acabem se partam terminem sem que se possa fazer nada. fica aquele ar horrível que não se aproveitou tudo. por isso mato aula pra ver o por do sol e por isso espero o sol nascer pra ir dormir. acho que esses momentos são importantes e não deveriam ser perdidos. descobri também que ver o nascer do sol com sono é muito mais gostoso do que acordar pra ver o sol nascer e que a noite deveria ser mais povoada na escuridão. a noite é muito mais aconchegante promissora carinhosa e acolhedora que o dia. mais perigosa e mais promiscua também mas não existem polos totalmente positivos.
 e eu ainda estou com todas as conversas que a gente ainda não teve na cabeça e parece que eu sei tanto de você e tanto da gente e na verdade, se alguém me perguntar por acaso, eu não sei nada. só sei que você chegou de repente e saiu bagunçando tudo e cantando Legião Urbana e tendo uma presença ímpar e agora parece que você saiu correndo por todos os cantos, se despedaçando e eu te encontro em todo lugar e se bobiar eu nem sei como escreve o seu nome, mas você me convidou pra ir no museu um dia qualquer e pra mim já está bom demais.
   Sinto cheiro de farofa. podia ter farofa no bandeco hoje, ia ser uma alegria. arroz feijão e farofa. para começar uma sexta feira de sol (não sei se está sol de verdade, mas admito que esteja) arroz feijão e farofa é uma combinação mais que agradável. hoje é dia de viajar novamente, pegar o ônibus, dormir ouvindo música... Putz! tenho que colocar música no iphone ipod tablet whatever para escutar durante a viagem e separar os textos que tenho que ler porque tem prova na segunda feira e carregar o celular e ainda tenho que desligar o notebook e colocar tudo isso na mochila e ir comer e ir no centro procurar uma papelaria para comprar as tintas pro meu pai e ainda to aqui sentado pensando em como é bom conversar com você. e a vontade é continuar escrevendo um texto infinito até que apareça na outra aba do Chrome que você me mandou uma mensagem dizendo que tinha voltado e eu espero que você não repare que eu fiquei ansiosamente esperando e nem saí. mas o dia tem que começar e pra isso tenho que me mexer e largar você um pouquinho, porque eu já desconsiderei que você foi embora primeiro e que você disse tchau, que é quase um adeus mas não é tão pesado e que você só vai ficar aqui mais 10 dias que eu sei que não são 10, são quase 20 mas eu sou exagerado e carente e atencioso e tímido e despreocupado e preguiçoso e sorridente e às vezes gosto de me sentir como se tivesse 11 anos de idade e o mundo fosse ainda um lugar fantástico onde a gente não sabe de nada. e sinto pena das pessoas que se esforçam para ser adultas e não conseguem mais intender como é divertido ficar pulando onda, catando conxa, assustando pombo, fazendo castelinho de areia, brincar de boneco de boneca de casinha de cozinha de médico apesar d'eu ter medo de médico... porque o mundo vai tirando da gente essa coisa gostosa que é poder se deixar poder ser criança só um pouquinho  porque alguém contou pra gente que a gente ia fazer dezoito anos e ia ser adulto e a gente achava que ser adulto era ter todo o dinheiro do mundo e poder comprar todos os brinquedos e beber aquelas bebidas coloridas corar a cara e falar engraçado igual os adultos fazem. mas ninguém conta pra gente que ser adulto é trabalhar pagar conta morar sozinho se sentir sozinho ver filme ruim na globo de madrugada comendo sorvete e dormir pra acordar cedo pra trabalhar e não ter dinheiro pra nada e não poder sorrir. aí eu penso sobre isso tudo e na verdade tirando a parte de comer sorvete de madrugada eu não quero ser adulto. e acho que ninguém deveria querer ser e a gente poderia ser criança pra sempre e sexta feira ia ser o dia de levar o brinquedo preferido pro trabalho e na quarta a gente ia ter um tempo a mais no horário de almoço pra trocar figurinha do álbum da copa e ninguém ia ter vergonha de assistir desenho ou de não saber fazer alguma coisa e todo mundo ia tentar seu melhor porque o que importa não é conseguir fazer ou não mas é aquela alegria de estar alí, tentando... e dá até pra sentir aquele cheiro de suor de criança, que na verdade eu detesto mas me traz tantas memórias boas da época que eu não precisava pensar em arrumar minha mala.

sobre conhecer pessoas novas

já tava na hora de desistir de se sentir inteiro. cheiro. e querer se despedaçar em outra pessoa. sem mágoa. tava tudo tranquilo demais, calmo demais, insone demais. chovia demais. tava precisando de alguém que mudasse as coisas de lugar abruptamente. e acabasse com os cubos de gelo ou com a coca cola. que abrisse delicadamente a porta da cozinha com um supetão. enquanto eu saía pela sala. que metesse a mão no pacote de cheetos com um soco. e cortasse sem perguntar todas as amarras tranquilizadoras da vida. que me deixasse com vontade de dançar no supermercado. e não pagar a conta. tava na hora de sentir vontade de sair casa e de voltar no dia seguinte querendo sair de novo. pra ficar um pouco mais. e de sentir que tá vivendo. que a vida começou ali, naquele instante. e fazer novos planos. desfazer novos planos ir pra praia e aprender a andar de bicicleta. e se enganar e sofrer e chorar e desistir de novo e talvez quem sabe querer recomeçar ou desaprender a andar de bicicleta. de outro jeito qualquer. ou afundar a cara em sorvete de creme e jogos e falkner. dividir mais cheetos e tirar fotos e ler martha medeiros e compartilhar música boa. e fingir que chama o taxi e querer ir embora mas levar tudo junto. e talvez ir parar no pará ou paraná curitiba bh amazonas acre montreal bahis ou em qualquer outro lugar assim tão estranho e familiar fazer contato por telepatia. contrato por telefone. sentir uma conexão instantânea necessária distinta cósmica pulsante. e precisar pedir conselhos pra quem não sabe dar porque quem sabe dar está estudando biologia dentro do quarto. trancada. fazendo greve. de internet. porque acha que tá perdendo tempo e perdendo iphone. principalmente perdendo iphone enquanto dorme na praia numa noite qualquer porque de repente precisa de um pouco de vida. e viver, as vezes, significa perder o iphone e a internet e o interesse por besouros com chifre.
  e de repente encontrar um pouco de vida virando as coisas num bar mais ou menos num lugar mais ou menos num sorriso mais ou menos e num pouco de música não sei. e querer se vestir melhor e cheirar melhor e falar melhor andar melhor beijar melhor abraçar melhor ser melhor não ser melhor... melhor não saber . Tirar o perfume que adoça a vida de dentro do armário e começar a usar. a se usar. a se deixar usar e viajar e entrar com a calça jeans na água suja da praia de icaraí e achar que tá vivendo uma cena daqueles filmes que ninguém gosta de ver. e acreditar que a qualquer momento vai aparecer orlando bloom. lindo como só orlando bloom consegue ser. e sua vida vai se transformar numa história tão bonitinha quanto "tudo acontece em elizabeth town" e aí voce para pra tentar contar quantas noites já virou no telefone amando e quantas noites já virou amando o telefone. e orlando bloom não vem, mas vem uma onda molhando sua perna e voce volta pra realidade enquanto toca jazz bem lá no fundo da sua alma.

procrastinação

Hoje o dia cheira a despedida mas tem alguma coisa nesse tom bege amarelado que as folhas secas do meu saco de chá de amora, que agora acho que nem sei mais se é chá de amora (as folhas não deveriam estar amareladas), que me diz que houve ou deveria de haver algo que explicasse o porquê todos os dias tem que cheirar a despedida ou roupas sujas, ou resto de cigarro ou insônia e dor de cabeça. E o sol lateja na minha janela e me lembra que a qualquer momento meus pais vão ligar e eu tenho que estar um pouco menos rouco para atendê-los. Não deveria ter ido dormir as seis e deveria parar de comer macarrão três vezes por dia, fazendo milhares de receitas diferentes com os mesmos ingredientes, com o mesmo sabor. Devia lavar a roupa. Devia limpar o quarto. Devia ter juntado um pouco mais de dinheiro. Devia estar estudando mais e, definitivamente, devia jogar essas folhas de chá fora. Não vou fazer nenhuma dessas coisas em especial a última delas porque nesse momento e especialmente nesse momento único essas folhas de amora estão me proporcionando, não só uma péssima reflexão sobre a vida como uma imagem belíssima de como eu ando preocupadamente despreocupado.  Minha blusa ainda tá com teu perfume. Citaria o nome dele, o preço, a loja e a data da última vez que você me disse que precisava comprar perfume, data a qual, acredito eu, foi o dia (ou dia anterior na minha segunda hipótese) que você comprou um vidro novo de perfume. Conhecendo você sei que o processo pode ter demorado mais tempo. Sua preguiça quase se iguala a minha, mas conhecendo você melhor ainda, sei que não sai de casa sem perfume e sei também que detesta ficar em casa.  Não vou dar essas informações. Não vou porque não quero parecer paranóico. Mais que isso, não quero que outras pessoas saibam qual é seu perfume e, propositalmente (ou não) usem para sair comigo, para mexer comigo, para mexer com você.
      Penso se ainda dá pra tomar o chá de amora. Tinha capim limão e earl grey, mas sumiram. Aliás, falando em coisas que sumiram... Sumiu o Pulp!, do Bukowski, sumiu o Construção, do Chico Buarque, sumiu o Cálabár!, também do Chico.... Sumiu o disco azul do Dire Straits, sumiu. Sumiu você. Todxs vocês. Foram caindo aí pelos meus amores... pelas perdas.. Foram caindo e vem caindo. Assim eu vou me guardando um pouquinho em todxs vocês que sentem saudade, que me odeiam, que gostariam de me odiar, mas sentem saudade. E eu odeio e sinto saudade de todxs vocês e de todas as coisas que larguei por aí, que na verdade não fazem a menor falta, mas eu queria voltar no dia que dei essas coisas para vocês e tomá-las de volta, ou melhor, não dá-las. Aí convidar vocês para tomar chá de pêssego, ou café latte e dar de qualquer jeito. porque vocês merecem. Cada umx de vocês merece esses pequenos pedacinhos e todos os pedacinhos e nenhuma de vocês merece nada. Porque a gente não tá aqui na vida discorrendo sobre merecimento e sim sobre vontade de ser eterno. Seja o carinho, seja o livro, seja o ódio, seja o amor, seja o momento seja o meu chá de amora que agora vai ter que ir pro lixo. Não exatamente agora.
Não sei mais sobre o que é esse texto. se é sobre você ou sobre chá de amora, ou sobre esquecimento ou sobre perfume de café ou sobre todas as coisas que são nossas ou sobre Rita.
      Deveria viajar mais. Escutar seus conselhos. Principalmente os seus conselhos. Devia viajar pra ver os amigos, amores, pra ganhar mais abraços e tirar fotos e, quem sabe, conhecer gente como vocês. Principalmente como você. Gente que abraça forte e ama com uma palavra só e tem um cheiro tão bom quanto café fresquinho. E que te fazem rir, por graça ou por vergonha. E que tem cabelos ruivos e mordem o pão de forma fazendo biquinho e sentem um prazer enorme em desaparecer e que fica bêbada e precisa de ajuda e que nunca precisa de ajuda. e que mora em outro país e tem vergonha de falar com você no telefone e que na verdade é homem, mas eu acho muito mais bonitx quando existe como mulher. e que é brancx e está no mato grosso e eu não vejo a mil anos. e que é ney, é entidade. é amor passado e sabe tanto das barbas do bode quanto eu sei. e gente que eu nem amo mais e que raspou a cabeça e mudou de nome e mudou de sexo e esqueceu o sexo e esqueceu o nome e se esqueceu. mas as vezes me liga, ou eu ligo só pra manter um gosto de ante-ontem no bolo quente que saiu do forno. e abraçar mais mamãe. porque eu sei que não importa quantos abraços eu dê as pessoas vão morrer e eu vou achar que não foi suficiente. e vai na praia de noite e muda de estado e me faz rir e me atende as quatro horas da manhã porque eu acabei de ver o filme que me indicou e eu preciso, muito, falar sobre porque eu nao consigo parar de chorar. e eu não consigo parar de chorar mesmo. muito. e que não sabe quando ou não me dar abraços mas sabe me decepcionar como ninguém. gente com pelo lindo e pele linda e boca linda e voz gostosa. que saudade dos seus cheiros e sorrisos e gestos e bocas e mordidas, nem todas as mordidas. e gente que brigou comigo e gente que eu tratei mal...
e eu tenho que lavar o frigobar e estudar pra prova e cortar alho e desligar o microondas que não para de apitar e decidir se eu vou ou não para aula amanhã e ir no banco, contar dinheiro, guardar dinheiro, economizar dinheiro, gastar dinheiro, comprar mais chá. e eu vou sair de casa e vou esquecer de levar  o lixo pra fora.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

mal escrito

eu sinto tanta falta do nosso amor que doi. Sinto falta de passar o dia todo sentado abraçadinho com alguém. De deitar e ouvir música. De ser íntimo, sem precisar se tocar. De te ver todo dia, dividir cerveja, dividir cheiro. Dividir amor. De ficar respirando no seu ouvido, sentado num banco desconfortável. De deitaar com você, de andar de mão dada. De ouvir música. De ser amado e amar sem nenhum compromisso. De não precisar de beijo nem de sexo pra se sentir completo com outra pessoa. Sinto falta desse amor sincero e sem barreiras. Que não impede outros relacionamentos. Sinto falta do carinho de verdade, do sorriso de verdade, do vício de verdade. Sinto falta de sentir falta de você quando você não vem e de esperar os dias que você tá na cidade pra te ver. Sinto falta de voce me ligando, dizendo meu nome, do seu sorriso. Da sua pele branca, do seu jeito meigo... Sinto falta das nossas piadas internas, do tom da sua voz. Do tom da minha voz com a sua, dos nossos Carlton de baunilha, do som da minha voz perto de voce. De como a vida parecia completa, de como eu parecia completo. De me divertir sem fazer nada. De ter no teu silêncio os melhores dias da minha vida.
Sinto falta de tudo que a gente queria ser e tudo que a gente podia ter sido
mas principalmente, sinto falta de todo dia deitar na cama sabendo que no dia seguinte eu ia receber, novamente, o mais sincero de todos os abraços sinceros. E o mais amado de todos os olá amados de todo o mundo.
A gente faz falta pra mim.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

solidão lá de casa



mulher trabalhadêra
acorda as 5 da manhã
pra fazer meu café
ela não toma porque não dá tempo

vai pro trabalho
pede pra sair mais cedo
na pausa do almoço
pra vir fazer o meu
não come porque não dá tempo

volta correndo pro trabalho
trabalha a tarde inteira
igual uma condenada
voltando pra casa
 pega o metro
pra dar tempo de me fazer a janta.
ela não come porque tá sem fome.

dorme cansada
e acorda cansada
vive cansada
 sem falar uma palavra
porque nada precisa ser dito,
porque essa mulher sou eu.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

descaso


eu realmente nao consigo entender.
parece que no fundo
voce nao quer que aconteça
eu nao disse que nao quero
disse que nao sei
que to confuso
porra
se isso nao é o suficiente
pra voce entender
que eu to tentando
mais do que todas as vezes na minha vida
eu realmente nao sei o que falar
o que fazer
na osei
nao sei mesmo.
porra
nao é fácil sabe
eu tenho que pensar cada passo
porque se eu nao prestar atenção
eu esbarro nas coisas
quebro as coisas
por muitos motivos eu nao quero assumir a responsabilidade de machucar alguém além de mim.
mas eu gosto de voce e voce sabe que eu gosto
e eu sei que pode ser legal apesar de tudo
mas isso vai exigir que eu viva de verdade.
que eu me mexa
que eu queira
que eu deseje
que eu faça
que eu viva
de verdade
mesmo voce dizendo que nao
ou fingindo que nao sente minha ausencia quando eu simplesmente esquecer que preciso de voce do meu lado.
nao é fácil pra mim assumir que sou assim
não é mesmo
parece fácil ?
nao sei
porque não é
e é mais difícil ainda
enxergar algo para além disso
meio por medo
mais por acomodação
é muito fácil viver assim
sem precisar dos outros
sem as pessoas terem nada do que eu sinta falta.
e é exatamente assim que eu me sinto
mas não sei até onde isso é verdade.
me magoa quando a gente tá junto e eu vejo que voce está com muito tesão por mim e eu não estou e não é porque é voce
mas é porque eu realmente não sinto vontade de fazer sexo com as pessoas
nao me passa pela cabeça
mesmo.
e não é por medo nem por nada disso. não me passa pela cabeça
eu simplesmente não penso nisso porque nao acho que isso seja importante para mim.
e eu sei que é importante.
assim como várias coisas que são importantes
e eu não dou a mínima
e eu sei que as pessoas ligam, mas fingem que não ligam porque sou eu
porque as pessoas nao gostam ou nao de mim
elas aprendem a lidar comigo
ou me ignoram por completo.
eu nao sei o que quero almoçar amanhã
nem que horas vou dormir
nem como vou fazer o trabalho da faculdade
nem quanto dinheiro tenho no banco
não sei coisas pequenas
decido tudo em cima da hora
meio sem saber como nem porque
não sou adulto ainda.
não sei decidir coisas difíceis
e sinto vergonha de estar em público
a maior parte das vezes
e me escondo atrás de ações que às vezes eu nem gosto.
tipo fumar
pra parecer que sou adult
e sei o que to fazendo
e eu não me dou conta disso o tempo todo
porque nao me dou conta de muita coisa
então, eu realmente não sei
e isso não quer dizer que eu não quero.
quer dizer que eu não tenho a menor idéia do que eu to falando .-