segunda-feira, 14 de maio de 2012

desespero



Choveu
Choveu e ainda chove e como chove
quer dizer
já nem chove tanto mas ainda posso sentir a chuva na minha pele
Na minha roupa. Nos meus cabelos.
Mas foi logo no meio de tanta chuva e tanta sujeira e tanta indecisão que ela resolveu aparecer
Saída, linda.
Vinda de dentro de uma loja, ou do fim do corredor, Não sei.
Sei que veio e eu percebi logo quando veio e alí me hospedei, por alguns segundos, naqueles olhos, naquele cabelo. Naquele corpo tão menor que o meu. Ou às vezes nem tão menor que o meu assim.
Alí me hospedei por duas vidas inteiras.
Não era um corpo qualquer e eu sabia. Era um corpo daqueles que te faz querer largar tudo. Que me fez esquecer tudo por um segundo e só pensar em como aquele corpo era belo e como eu não queria abandoná-lo.
Foi aí que o corpo, ou o sujeito por trás do corpo me notou. E quando me notou também me notei e vi que estava sorrindo. Olha só. Eu.
Molhado de chuva, totalmente perdido, jogado. Nem no meu melhor nem no meu pior. Perdido em um corpo que não era meu. Fazendo algo que não era seu e sorrindo.
Sorrindo.
Fazia tempo se é que me lembro de alguma vez que sorri for a do meu corpo.
Fora, é.
Porque o que estava sorrindo não era eu.
Era meu. Ou melhor.
Dela.
E ela viu
e eu vi
e ela sorriu.
Ela sorriu em mim.
Ou pra mim, ou de medo ou confusa.
Talvez tenha se perguntado
“será que a gente se conhece?”
E esboçou um “oi”
eu ouvi
ela ouviu também. Eu sei.
E ela passou. Ela passou e foi e fim.
Eu virei, ainda acompanhando-a com os olhos
vendo o último rastro de mim voltar a si
e ver o último rastro dela também
e ela foi.
E provavelmente a gente nunca mais se ver
e eu fico aqui me perguntando se ela também foi tocada
Porque eu fui, eu sei.
E a gente nunca mais vai se ver e eu vou continuar procurando
Por aquele sorriso
Aquele oi
aquele eu.