terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Neurose gourmé

Pára!
 Não. É sério, pára!
 Tira esse sorriso da cara e encara logo o fato de que não tá legal, não tá bom.
Você não cansa não ?
 De fingir que tá tudo tranquilo, que você não se sente uma bosta, um derrotado. Que a solidão não tá te dando chicotada o tempo todo.
Tá gostando de chorar e não poder ?
E as pessoas a sua volta achando que tudo é um grande exagero seu, te deixa melhor ?
É, imaginei. Agora tá mais sincera essa sua expressão. Vaga, longe, triste.
Agora a gente pode começar a conversar...
Não quer, né ?
Tô vendo que não quer... Vai esconder por quanto mais tempo ?
Ah! Isso! Vira a cara mesmo. Aumenta o volume
FINGE QUE NÃO TÁ ME ESCUTANDO.
É. Eu vou gritar mais alto do que você imagina possível.
Tá querendo me mandar embora ?
Eu sou só uma voz na sua cabeça...
É só você dizendo pra si mesmo o que todo mundo que olha pra você pensa, mas ninguém fala:
                                                      "Você é um merda."
Um bostinha desses qualquer. Ninguém liga pra você. Ninguém quer saber se você tá bem ou não. Te suportar já é uma luta.
Eu não vou embora porque sou só uma voz na sua cabeça, mas se eu fosse um amigo... Ah! Com certeza eu ia.
Se eu fosse um amigo...
Falando assim até parece que você tem muitos...
ooooooooooooooooh.... ficou magoado ?
Vai chorar ?
VAI CHORAR SEU BOSTINHA ?!
Então chora. Chora tudo que tem pra chorar. Vai se sentir bem pior depois disso. Vai começar a ter vergonha de mim.. Vai querer parar de me escutar..
Mas aí você vai ficar sozinho, porque eu sou real, sou incisiva, sou essa voz na sua cabeça que fica te lembrando, o tempo todo, sem dó, o quão solitário e triste você é, mas sou a única coisa que tem pra você conversar.
Pelo menos sou sincera. Amargamente sincera.
Ah! E aquela garotinha... É, essa mesmo. Esquece ela. Ela não gosta de você.
E não. Você não vai ser mais feliz se você namorar o Daniel. Nem o Jonatan. Não, esse aí principalmente.


NÃO.

Caralho que que tem de errado com você ?
Ou melhor... Que que não tem de errado com você ...
Já se viu no espelho ? Teu cabelo tá uma merda.
Tua barba tá uma merda
Tua sombrancelha tá uma bosta
Você tá gordo
Tá feio
Tá sozinho
Tá carente
Foi abandonado por todo mundo que você achou que um dia gostava de você
Agora fica aí igual um mendigo. Pedindo abraços, carinho... Achando que um dia alguém vai te amar.

Acorda, homem.
Acorda e presta atenção no que você tá fazendo.
Pára de se preocupar.
Recalca.
Finge.
Se foca nas coisas que não pedem muito de você
Vai numa pet shop e compra um bichinho...
Um gato ou uma tartaruga...
O problema do gato é que ele vai morrer antes de você
O problema da tartaruga é que você vai morrer antes dela e, como você não tem amigos, nem namorada nem vai ter filhos a tartaruga vai ficar sozinha num apartamento gelado e úmido, fedendo a cigarro e bebida e mofo.
Principalmente mofo
Principalmente cigarro
Principalmente bebida
E a televisão ligada no canal que só passa desenho e aquele monte de livro que você não leu
e aquele monte de texto que você não terminou
E a alegria por saber que com seus pais mortos você pode não fazer nada e deixar a vida te matar
E a tristeza de saber que com seus pais mortos você não tem com quem conversar.
Saudade de chorar no colo da sua mãe, mesmo que você nunca tenha feito isso...

QUE VIDINHA DE MERDA...

Melhor seria se nem tivesse nascido
Ou que não tivesse se apaixonado pela primeira vez
Ou que não tivesse jogado basquete, tocado guitarra, aprendido inglês, espanhol
ido pra uma escola boa, feito primeira comunhão, se apaixonado de novo, terminado,
perdido a virgindade de uma forma terrível, mentindo sobre tudo o tempo todo,
fazendo da sua vida algo mais divertido do que ela podia ser.
Melhor seria se eu não tentasse ser esse burguês filhinho da mamãe disfarçado de malandro.
Melhor seria se eu tivesse outro lugar que não o travesseiro molhado de choro pra depositar todo meu amor.
Melhor seria se não tivesse amor.
Ta aí.
Recalca !

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sobre aprender-se e respeitar-se

  Eu não usaria a palavra difícil para me compreender porque soa como se fosse um problema e não é um problema (bem, às vezes é, mas é diferente). Meu nome é Roque, tenho 21 anos, estudo psicologia na Universidade Federal Fluminense, em Niterói. Sou negro, de classe média alta, vim de um bairro central em uma cidade pequena, na serra do Rio de Janeiro, Teresópolis. A quem interessar possa sou de escorpião e, o mais importante dos detalhes e o motivo deste texto : eu não sinto desejo sexual em outras pessoas. Evitarei detalhes (ou tentativas pseudo acadêmicas) de explicações “científicas” sobre e tentarei fazer desde relato o mais sincero e real possível.
         Eu devia ter entre 15 e 16 anos quando me deparei com a minha primeira possível experiência sexual. DIgo primeira possível experiência porque não teve o sexo em sí, mas algo muito estranho, que eu não sabia se as outras pessoas sentiam e eu não sabia como perguntar. Era uma garota (naquela época nunca havia passado pela minha cabeça questionar a minha sexualidade, ou a sexualidade em geral). Ela era mais nova, tinha 13 anos, mas tinha saído de um relacionamento com um cara de 18 e estava apaixonada por mim. Saíamos a uma semana quando ela ligou para minha casa de madrugada (na época eu tinha uma linha telefônica que só tocava no meu quarto, o que foi um puta adianto na minha adolescência) dizendo que estava com muita vontade de, em suas palavras, “dar pra mim”. OK.
     Foram vários impactos. Primeiro a euforia teen de, num círculo de amizades masculinas não questionadoras, finalmente perder o último traço que me separava do grupo deles : a virgindade. Segundo, um medo terrível já que era a primeira vez nos meus quinze anos de vida que alguém queria enfiar o meu pênis em algum lugar. Pois bem, sem entender muito bem do que se tratava disse que também queria trepar com ela (sei lá que palavra usei na época). Aqui começam os problemas… Principalmente porque eu não queria transar com ela e, apesar da gente ter dado uns “amassos” mais fortes, com mais pegada na época eu não tinha, até aquele momento, pensado em fazer sexo, nem com ela, nem com ninguém.
  Para minha sorte (ou não) naquele fim de semana meus pais iriam para o clube e eu poderia dizer que estava com sono (porque eles saíam de casa as 8 da manhã) e ficar em casa “dormindo” durante a manhã… bem, vocês entenderam… E assim fizemos. Meus pais saíram de casa as 8 e meia e as 9 ela já estava lá. Com a saia mais curta que eu já tinha visto na minha vida. Aí eu começo a tremer. Ela me leva até meu quarto, fechando a porta da sala. Eu completamente sem reação. Ela me joga na cama, pula em cima de mim e eu começo a dizer, baixinho, descontroladamente : “medo.medo.medo.medo.medo.medo.medo.medo…” Eu não conseguia me conter. Tudo que eu conseguia fazer era expressar, com a voz mais assustada possível, a palavra MEDO. E foi uma palavra que, sem dúvida, definiu todas as minhas experiências sexuais depois dessa. (se é que vocês consideram essa uma experiência sexual). Não transamos. Ela não conseguia entender o que tinha de errado. Saímos da minha casa e fomos dar uma volta. Ela ainda não conseguiu entender o que “deu errado” aquele dia. E eu não sei se, na época, sabia/tinha coragem de explicar.
   (Preciso de um parêntese grande nessa parte antes de continuar a história para fazer um prólogo do que acabei de relatar : Antes desse acontecimento, entre meus 14 e meus 15 anos, eu tive uma namorada. Namoramos por 8 meses. Nos masturbávamos constantemente, mas nunca fizemos sexo [penetração]. Foi nessa época que tive meu primeiro contato com o sexo feminino e tudo me excitava muito pela sensação de descoberta. Mesmo nessa época, nesses 8 meses de namoro, não havia me imaginado fazendo sexo.)
    Nessa parte da minha história, sem perceber, comecei a andar com lésbicas. Não parece ser uma informação pertinente (e talvez não seja realmente nesse momento) mas é uma informação que, quando parei para tentar me compreender, fez um enorme sentido para mim e talvez faça para você, na conclusão desse relato.
Minha segunda experiência mais forte foi alguns anos depois. Eu tinha dezessete. Ainda não havia pensado em fazer sexo com alguém apesar de me masturbar constantemente. (Não havia ainda percebido o que me atraía na masturbação. O que me fazia gozar.) Era uma menina novamente. Um pouco mais velha (tinha 19 na época). Bissexual, divertida e linda. Nos apaixonamos porque ambos éramos (e ainda somos) intensos demais. Ficamos cerca de cinco dias juntos. No terceiro ela já queria muito trepar comigo e eu, bem, eu nada. Mas eu mentia. Dizia ter vontade e, quando ela me perguntava se eu me masturbava pensando nela eu dizia que sim. E era assim que eu acreditava que, quem sabe um dia, eu conseguiria. Até esse momento da minha história eu não tinha me perguntado se, talvez, eu gostasse de meninos. Um dia estávamos no carro de um amigo, no banco de trás e ela queria muito fazer oral em mim. Eu não estava à vontade e não queria, mas cedi à insistência. Foi péssimo. Eu não conseguia ficar excitado de forma alguma. Ela se irritou, saiu do carro puta e terminamos.
    Minha terceira experiência sexual foi durante o último ano do ensino médio. Eu tinha 17 e acreditava piamente que eu não poderia chegar virgem na faculdade. Comecei a namorar uma garota que andava com o meu grupo e eu sabia que, em diferentes momentos, ela já havia tido relações com todos eles, menos comigo. Começamos então a namorar e era uma relação extremamente sexualizada. Íamos para locais escuros em ruas escondidas e começávamos a nos roçar. Ela sentia tesão, eu ficava ereto pela fricção. Ficava feliz por estar demonstrando tesão. Ela gozava, eu gozava. Nenhuma penetração acontecia. Minha virgindade estava segura. Temerosa, porém segura. E eu não precisava mais me preocupar em pensarem que eu era virgem porque fofocas se espalham. Finalmente chegou o dia em que eu perderia a virgindade. Não sei se eu estava contente. Nunca havia pensado nisso. Fomos para uma rua, começamos a nos pegar e, finalmente, houve penetração. Pra frente, pra trás, pra frente. Muito medo, nenhum tesão. Brochei. Terminamos. E assim perdi minha virgindade. Nos três segundos mais eternos e, talvez, mais pavorosos da minha vida.
  Depois de todos esses acontecimentos pensei que talvez eu poderia ser gay. Bem. Foram mais três tentativas frustradas. O resultado era o mesmo. Eu não sentia tesão. Nem por pênis, nem por vagina, nem por cu, nem por boca, nem por nada. Mas eu continuava me masturbando loucamente. Com todo e qualquer tipo de vídeo, buscando entender o que me excitava neles, buscando descobrir porque eu me masturbava tanto mas não tinha menor vontade de fazer sexo com as pessoas. E foi aí que as fichas começaram a cair. 
  Primeiramente descobri o que realmente me excitava nos vídeos pornôs. Os rostos. Aqueles rostos felizes. Os dentes mordendo os lábios, os olhares. O sexo pra mim tanto fazia. O que me excitava era outra coisa e por aí consegui começar a entender o que eu sentia, como eu sentia. Começou a primeira fase. APRENDER-SE. Porém, eu ainda estava muito longe (e até uns dois dias atrás eu ainda estava muito longe do RESPEITAR-SE.)
    Não foi simples. Não foi simples e não é simples e eu não sei quando pode vir a ser simples, mas vem sendo mais fácil. Vem sendo mais fácil porque agora eu venho aprendendo a respeitar-me. Em analogia a forma como acredito que agi, imaginei um gay do séc. XVII, numa comunidade em que não houvessem outros gays. Sem celular, sem internet e sem Beyouncé. Querendo agarrar outros homens, vestir outras roupas, mas sem nenhum padrão. Sem nenhum conhecimento prévio do que estava sentindo para se espelhar. E, com tanto desconhecimento e falta de liberdade para falar sobre seus desejos que ficava se punindo e tentando se adequar. E até quem sabe arranjou uma esposa e transava com ela pensando no Orlando Bloom do séc XVII. 
Esse era eu. Uma pessoa que não sentia desejo sexual por outras pessoas, trancafiado num mundo onde todos que eu conhecia falavam sobre sexo e vontade de fazer sexo e eu não me sentia à vontade o suficiente para dizer “ei, eu sou o Roque e eu não tenho vontade nenhuma de fazer sexo.” Aí que comecei a andar com as lésbicas. E ai que isso fez sentido. Porque com elas eu tinha certeza que, em momento algum, haveria a possibilidade d’eu me tornar objeto de desejo. Nunca faríamos sexo. Era um porto seguro. E, para além disso. Foi o lugar onde eu pude me expressar e conversar sobre gênero mais livremente. Agradeço a todas as lésbicas que marcaram minha vida por tudo que passamos e aprendemos juntos e por me darem toda a liberdade que eu tive para poder ser eu mesmo (mesmo que na época eu não percebesse que eu estava fazendo isso) perto de vocês.
O caminho para respeitar-se, no meu caso, foi muito difícil. Foram milhares de tentativas, de flertes desnecessários, de mentiras sobre fins de semana com sexo que nunca existiram. Vontades falsas de transar com alguém, e uma dificuldade absurda de conseguir compreender o meu desejo. Por várias vezes me recolhi chorando na cama porque eu havia chamado alguém para um encontro e eu precisava ligar desmarcando porque eu não queria um encontro. Eu não queria um beijo e talvez sexo. Eu queria um abraço, um carinho, dormir junto, conversar… mas sexo não.
    Foi muito difícil conseguir me organizar na sociedade, e talvez eu ainda dê alguns tropeços. Ainda tente fazer sexo mais vezes e volte pra cama chorando porque não deveria estar tentando me adequar a coisas que não sou. Porque respeitar-se é um exercício diário. Principalmente quando o sexo é um assunto tão recorrente, tão abrangente e tão fora da minha realidade.
Não sei se o texto ficou bom… Passei correndo por vários temas, hora por preguiça, hora por achar que o texto estava ficando grande demais… talvez um dia eu volte em alguns pontos específicos, mas vou continuar escrevendo sobre as experiências e impressões que eu tiver pelo caminho.



quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

partidas

saudade saudade saudade saudade. Saudade não define mais. Vai passar mais um ano. Vamos entrar em 2014... parece que você ainda não morreu. Ainda não esqueci ainda não abandonei... ainda acho que um dia vou te encontrar na praça olímpica e foi tudo uma grande piada. Uma piada escrota que fizeram comigo pra ver se eu realmente gostava de voce.... pra ver se eu te amava mesmo ou se eu só fingia.... uma piada pra acabar com meu ego de achar que eu podia não te beijar quando eu não queria e brigar com você por motivos bobos acreditando que quando eu quisesse você ia estar lá pra mim e ia voltar comigo. Porra. Ainda podia ser 2010 e a gente ainda podia estar naquele último evento de hardcore e eu devia ter te beijado. Porque eu sinto saudade. Desde aquele dia até o infinito, não vai passar um dia, ou, sem exageiros, uma semana, em que eu não sinta saudade. Do seu sorriso, do seu cheiro, da sua voz... de como você era agressiva, como você gostava do meu pescoço, como você tinha tudo e nada a ver comigo... Como desenhava bem, beijava bem e tinha planos... Como se vestia bem e como curtia o hardcore tanto quanto eu e tanto quanto todos esses grandes amigos que cresceram comigo... Talvez de todos o nero entenda melhor o que eu passo. Porque ele passou pela mesma coisa. Porque ele também perdeu alguém do jeito que eu perdi... sem se dar conta do que tinha perdido. Não vai haver um dia na minha vida que eu vou acordar te amando menos. Você me ensinou a dar valor as coisas... a respeitar os tempos, a resgatar os abraços... Sempre que deixo de dar valor a um amigo lembro de você e de como você valorizava as coisas pequenas, os momentos pequenos, as conversas bobas... Como você só queria ficar o tempo inteiro conversando comigo como se não tivessemos mais nada pra fazer...Será que ia ser difícil com você ? Sem dúvia seria... Somos dois cabeças duras infernais... mas sem você é muito pior. eu ainda sinto saudade, Esther.